Essa é uma questão sobre a qual tenho me debruçado bastante ao longo desses anos em que me descobri nesta condição, a de pai. Sei, entretanto, que não sou o único a perder o sono com essas reflexões. Quando essa época do ano chega, se não por conta própria, impulsionado pelas mais variadas peças publicitárias, outras pessoas também se encontram refletindo sobre suas próprias condições paternais ou a daqueles que lhes representam essas figuras.
Porém, já adianto que aqui não tentaremos responder a esta questão, mas deixo o convite para ter a sua companhia — e quem sabe também um pouco das suas vivências nos comentários? — nesta digressão em torno da minha parca experiência neste mundo tão desafiador.
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Não me engano em supor que muitos que estão aqui possuem, ao menos em algum grau, uma pessoa que ocupa esse lugar de cuidador ou mesmo que hoje seja essa pessoa. E a despeito de todas as problemáticas que exercer esse papel possa trazer para as rodas de conversa, vamos manter propositalmente — ao menos neste primeiro momento — essa prosa “beeeeem” rasa. Assim sendo, penso que meu principal papel como essa figura é a de ser um exemplo. Sim, eu sei… Piegas e previsível, mas convenhamos, longe de ser inverossímil!
Mas porque cheguei nesta digressão e em especial nesta convicção? Difícil dar uma resposta direta e objetiva. Mas como estamos em uma confabulação, posso me reservar o direito de andar um pouco mais? Ótimo, então sigamos!
Comemorações escolares
Na ocasião em que escrevo essas linhas, estou há algumas horas das comemorações escolares em que participei como homenageado, junto a tantos outros pais. E ainda agora sinto o incômodo de estar na presença de pessoas que sentem tanta dificuldade em receber, ou até mesmo dar, um pouco de afeto. Explico! Uma das dinâmicas, das atividades propostas hoje, exigiam que os homenageados subissem ao palco e, juntos de suas crias, integrassem o evento. Porém, assim que os primeiros cuidadores subiram ao palco, aqueles cuja a vez ainda não tinham chegado e que não sabiam que participariam de atividades análogas, começaram a caçoar, no melhor espírito da quinta série, dos pais que tinham subido ao palco.
Para quem me acompanha no Dado de Prosa, programa aqui da Cards Realm no canal Cards Entrevistas, deve saber que minha filha e a questão da paternidade vez ou outra aparecem por lá. Mesmo não sendo o foco do programa, é quase impossível dissociar dos seus hobbies preferidos a pessoa que, sem medo de ser feliz, mais amo! E, desta forma, claro que quando falo de RPG, Card Games ou Board Games, eu, como todo cuidador que quer ser um exemplo para seus herdeiros, compartilho o ávido desejo de ter minha pequena padawan ao meu lado!
Estou a anos-luz de me ver como alguém capacitado para falar de questões parentais — mas tenho boas indicações, se quiser! — No entanto, me vejo na obrigação, quase moral, de trazer essa pauta para dentro das rodas de conversa e o motivo é simples: quero a companhia da minha filha, claro.
Então Andre, o papo tá bom, mas não entendo onde você quer chegar! Quer levar sua filha, leva, pô!
Calma lá meu nobre interlocutor! O buraco é bem mais embaixo!
Levando minha filha aos eventos
Ao longos dos anos vi inúmeros “amigos” do Magic elogiando a presença incrível da Dana Fischer nos mais diversos eventos gringos, e digo que deveriam elogiar mais! Porém, alguma vez você considerou que poderiam ter mais Danas, por aqui inclusive, se você trabalhasse para frequentar um ambiente mais amigável? E antes que você me venham dizer que a classificação etária do Magic é isso e pi-pi-pi po-po-po, com a devida vênia…Bem, você entendeu né?
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Se engana quem acredita que tais agruras existem apenas no mundo dos Card Games. Tem muito, mas MUITO RPGista por aí, tirando falha crítica nos testes de carisma e sabedoria! De hipersexualização de personagens femininas ao desrespeito às mulheres nas mesas, estejam elas mestrando ou jogando, passando por cenas “in game” constrangedoras e desnecessárias, encontra-se de tudo!
Uma rápida corrida pelos principais grupos de jogadores, seja lá de qual for o nicho, espalhados pelas diversas redes sociais, vão te apresentar a um sem número de conversas que representam bem o tipo de lugar que nenhum adulto, em sã consciência, iria frequentar com seus descendentes. Papos que variam da postura tóxica do homem hétero tradicional, que curiosamente não sai da quinta série, ao discurso tresloucado do “Childfree”!
A paternidade é capaz de mudar uma pessoa. Sim, mais uma afirmação que fulgura no vocabulário do senso comum. No entanto, mais uma que é verdadeira! Lamento muito que essa tenha sido o “gatilho” para promover o início da mudança de postura que ainda hoje tento operar em mim. Gostaria de, lá atrás, ter me deparado com mais pessoas que dialogassem sobre masculinidades possíveis, que não as tóxicas.
Hoje estamos comemorando com nossas figuras paternas, ou sendo essas figuras. Mas você lembra se:
- Da última vez que foi jogar na sua loja preferida, o banheiro estava em condições de receber uma pessoa que precisasse sentar na tábua?
- Tinha um trocador para o bebê?
- No último evento que você foi, você viu alguma criança?
- Chegou a se perguntar se o ar condicionado estava frio em demasia?
- Se uma criança poderia ser acompanhada por um responsável, caso precisasse ir ao banheiro, sem maiores problemas?
- Havia água potável ou comida saudável?
Se você não sabe ou não tem certeza sobre alguma dessas perguntas básicas, e nem de longe as mais essenciais, eu lamento, mas estamos falhando miseravelmente em sermos esse exemplo!
Você pode não querer arrumar briga com desconhecidos, mas no mínimo precisa — e deve! — demonstrar sua insatisfação diante de comentários ou comportamentos inapropriados, intervindo sempre que possível para evitá-los. Seja o “chato da roda” — abraços Tadeu! — e não perpetue esse tipo de comportamento ginasial. Aceite que homens podem e precisam chorar. Que são capazes de demonstrar afeto, se abraçando inclusive! Acredita?
Não seja o babaca que diz “mas nem todo homem” ou “eu sou diferente” toda vez que uma pessoa fizer uma crítica ao comportamento generalizado dos homens. Não tome para si as críticas, aprenda e tenha empatia. Aceite que o seu espaço de jogo, não é só seu! É meu também! E da minha filha. E do filho da sua amiga. E da sua amiga. Ajude a organizar eventos que não excluam pais e mães. Quando for em eventos, repare minimamente se existe um fraldário que seja!
Você não precisa ser pai para repensar sua postura, não perca o tempo que eu perdi.
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Não sei o sentido da paternidade, mas sei que isso dá algum sentido ao momento que estou vivendo, e se você caminhou comigo até aqui - obrigado! -, imagino que isso deva fazer algum sentido para você também.
Sendo pai ou não, abrace sua figura paterna e reflita sobre o tipo de exemplo que quer ser.
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