RPG: 7 Dicas para Campanhas longas e sem esforço

Campanhas são especiais.

E, ao mesmo tempo, cada vez mais raras...

Conforme crescemos não temos tempo, não temos grupos, não temos disposição. Mas será realmente impossível reviver a experiência de uma campanha como antigamente?

Sendo a visão clássica do nosso hobby, campanhas são aventuras conectadas em uma grande trama que permite a evolução de personagens novatos até grandes lendas com feitos impressionantes.

Campanhas podem durar meses ou até mesmo anos, e por conta disso vemos cada vez menos delas acontecendo.

Esse artigo é uma sequência da nossa lista de dicas para oneshots e eventos (Veja AQUI) e vai ensinar técnicas para facilitar a vida de mestres e jogadores que queiram se aventurar nesse incrível estilo de jogo!

Preferências

Campanhas podem demorar muito tempo e, por isso, é importante antes de qualquer esforço saber exatamente o que seu grupo deseja.

Converse com os jogadores, descubra o que buscam e que tipo de jogo gostariam de ter a longo prazo, peça exemplos e dicas antes de começar seus próximos passos.

Será impossível agradar a todos completamente, mas com esforço e diálogo será possível chegar a um ponto em comum com a mesa e isso ajudará na manutenção do ânimo e da interação durante todas as narrativas.

Gatilhos

Alguns jogadores podem se sentir desconfortáveis com certos temas e estilos de jogo e é importante respeitá-los na criação de uma campanha.

Ignorar gatilhos cria problemas dentro e fora da partida, insatisfação e até mesmo rompimento do grupo por conta de eventos que, na enorme maioria das vezes, não são necessários.

Não ignorem este ponto, como narrador e amigo de seus jogadores é seu dever prezar pela diversão e segurança da mesa que está criando. Sejam conscientes e tenham empatia com os amigos, é importante.

Sessão zero

A chamada “sessão zero” tem virado um padrão na criação de muitas campanhas, funcionando como o processo de organização das bases do jogo antes que as sessões normais comecem de fato.

Sessões zero podem incluir preferências, gatilhos, criação de personagens, cenário e tudo mais de importante para que mestre e jogadores saibam claramente o que esperar pro futuro.

Use Históricos e objetivos

É normal que jogadores criem personagens com objetivos e passados dramáticos e essa é uma ferramenta importante.

Você não precisa e nem deve exigir muito trabalho nesta parte, pois o importante de suas histórias será criado em jogo, mas você deve tentar conectar os principais pontos do plano de fundo dos personagens de sua mesa com os objetivos de sua história.

A vila de um personagem foi atacada por goblins? Talvez tenham sido mandados por ordem do vilão da campanha. Um ex-aliado traiu outro personagem? Ele pode ser o braço direito do antagonista de sua história sem muitos problemas.

Apenas evite usar o histórico contra os personagens gratuitamente. Se alguém cria uma família para seu personagem e tem eles usados constantemente como reféns ou mortos sem motivo, pode ter certeza que seu próximo histórico será bem mais simples justamente para não se criar fraquezas.

Torne-os protagonistas

Mesmo em campanhas realistas seus personagens são protagonistas e precisam brilhar.

Alguns terão proatividade e buscarão as formas certas de agir quando necessário, mas outros por vários motivos podem não ser tão dinâmicos e você, como narrador, deverá buscar formas de fazer estes personagens importantes para a narrativa.

Busque esporadicamente momentos onde os talentos de cada personagem sejam realmente relevantes pro sucesso da equipe, isso criará a sensação de importância e protagonismo que os jogadores buscam ao evoluir seus personagens em uma campanha.

Torne-os um grupo

Jogadores individualistas ou com temática fria e solitária são bem comuns e isso, por mais válido que seja narrativamente, pode atrapalhar o andamento do jogo.

Crie conexões entre os membros do grupo, dê uma motivação para a existência da união destes jogadores como, por exemplo, um objetivo em comum onde todos sejam necessários para o sucesso.

A campanha será longa e, por isso, tanto os personagens quanto a unidade do grupo devem ser queridas pelos jogadores para que a emoção mantenha-se nos momentos de risco, morte ou mudança.

Aprenda o Sistema

Você, narrador, deve conhecer o sistema que jogará mais do que qualquer um.

Saber regras parcialmente é um benefício dado apenas para jogadores novatos e mesmo um narrador em início de carreira deve se esforçar para aprender o que jogará, afinal, você será um árbitro e sua decisão será de extrema importância.

Caso não tenha tempo para aprender um sistema grande busque um sistema pequeno, até minimalista. Existem milhares de RPGs com poucas páginas que permitem narrativas tão boas quanto os maiores, por isso, não tenha medo de usá-los.

Leia o Cenário

Similar ao sistema, mas não tão drástico. Cenários podem ser enormes e inviáveis de se aprender na velocidade que um sistema pode ser feito, desse modo busque conhecer as estruturas básicas e a região que pretende jogar.

Se for criar um cenário próprio, tente conectá-lo com os históricos dos personagens e formule-o em conjunto na sessão zero, isso dará uma sensação de protagonismo maior aos jogadores com o tempo, pois refletirá exatamente a fantasia de poder que estão buscando em jogo.

Pode ser interessante criar resumos e disponibilizar material para os jogadores, além de informar o que é de conhecimento comum, afinal, os personagens vivem e conhecem este ambiente, nem tudo será uma novidade.

Use suas ferramentas

Organizar uma campanha pode ser trabalhoso, se o grupo for grande e a história também, pior ainda.

Felizmente hoje temos ferramentas para facilitar seu trabalho e você deve usá-las sempre que possível.

Aplicativos de organização, mapas mentais e criadores de listas garantirão que você mantenha atualizada localizações, personagens e eventos importantes da história.

Outras ferramentas como criadores de encontros, geradores de fichas, mapas online e até simples pedaços de papel para agilizar a ordem de iniciativa do combate também vão te ajudar.

Não importa se é simples ou complexo, ache suas ferramentas!

Se inspire

Você não precisa ser um roteirista profissional para criar uma boa campanha.

Na verdade, a maioria dos jogadores não espera algo realmente inovador quando jogam, especialmente se os preparativos da primeira dica forem utilizados.

Uma forma para manter a campanha interessante é se inspirar em obras do mesmo tema. Se vai jogar uma ficção no espaço, por exemplo, pode ser interessante buscar assistir alguns filmes e ver que tipo de abordagem diretores famosos usaram para criar suspense, emoção, aventura…

Você não precisa plagiá-las, mas inovação nada mais é do que o acúmulo de boas ideias unidas do seu jeito, então quanto mais souber, mais fácil será criar histórias incríveis.

Crie arcos

Campanhas costumam ter objetivos grandiosos e demorados, mas todos estes grandes eventos podem ser recortados em arcos menores de igual interesse.

Torne cada momento do seu jogo em um arco completo , como uma série. Faça com que mesmo momentos iniciais tenham reviravoltas, drama e conexões com algo maior, dessa forma o ânimo do grupo permanecerá aceso em todos os momentos.

O fechamento de um arco deve trazer a evolução do personagem, a sensação de dever cumprido, mas também um gancho para o avanço da trama principal, mostrando que não apenas os personagens melhores, mas os riscos que enfrentarão também.

Faça Conexões

De forma similar aos históricos citados na segunda dica, conforme o jogo avança é normal que muitos locais, eventos e personalidades tornem-se relevantes no jogo e saber usá-las é realmente importante.

Talvez o ladrão que vocês derrotaram fosse inimigo pessoal do capitão da guarda da cidade ao lado ou o monstro que mataram impedisse a invasão do bosque por goblinóides. Use conexões a favor ou contra personagens, torne o ambiente tão vivo quanto eles e deixe claro que suas ações possuem peso por onde passam.

Use suas ferramentas para guardar momentos-chave e não tenha medo de usá-los no futuro de forma criativa, os jogadores com certeza se surpreenderão e darão mais valor ao que fazem durante o jogo.

Momentos, não trilhas

Pode soar estranho ter essa dica logo após dizer para se preparar, mas a questão é: Nem tudo deve ser preparado. Afinal, RPG ainda é um jogo de interpretação e se a decisão dos jogadores não for relevante para a história então simplesmente não tem por que estarem jogando.

Desse modo, não planeje uma história com início, meio e fim como um conto. Você não está escrevendo um livro.

Foque em personagens e momentos significativos. O necromante quer invocar um exército de mortos-vivos? Apenas crie-o e faça os jogadores decidirem a forma como vão impedi-lo, e trabalhe com o que vier.

Lide com as responsabilidades do que criou e do que o grupo decide e não tenha medo de mudar seus planos se o rumo da história tomar caminhos inesperados.

Necessário, somente o necessário…

Não gaste tempo e energia em material que não será usado.

Sua cidade não precisa ter 50 personagens diferentes com fichas detalhadas quando meia dúzia de nomes e características podem resolver, assim como seus jogadores não lerão o conto de 30 páginas sobre a cosmologia do cenário só porque você realmente gostou de escrevê-lo (eu sei, acredite).

Você não precisa ter tudo criado previamente, é claro que dependendo do sistema o preparo pode ser importante para certas ocasiões, mas o que for além do necessário deve ser resumido, mudado ou ignorado o mais rápido possível.

Guie o fluxo, não o pare

Você preparou tudo para irem vasculhar a masmorra ao norte, mas de repente o grupo se animou em ficar na cidade?

Muitos narradores se desesperariam, mas se você seguiu as dicas até aqui com certeza já estará preparado. Você não precisa parar o fluxo criativo do jogo e forçá-los a irem para lá, apenas siga o fluxo e se adapte a história que está sendo criada em conjunto.

O mundo é vivo e decisões tem peso, os mistérios da masmorra ao norte continuarão lá e não serão resolvidos, mas isso não significa que o grupo não poderá encontrar emoção e desafios no ambiente desejado e se você for um narrador especialmente sagaz será capaz de usar essas decisões para criar ganchos diferentes, mas igualmente importantes para o andamento do seu jogo.

Abdicar do que já foi criado é talvez a parte mais difícil de narradores perfeccionistas ou com síndrome de escritor, mas é importante lembrar sempre que a história é viva e está sendo criada em conjunto, leve isso pro momento que for criar o material, faça apenas o necessário e siga o fluxo.

Crie vilões carismáticos

Ter um ou mais vilões carismáticos fará o grupo se interessar pessoalmente pela história.

Note que um vilão carismático não precisa ser divertido e super poderoso, mas interessante de uma forma que faça personagens e jogadores não o esquecerem.

Definir o que é um “bom vilão” é um tema longo que podemos falar melhor em artigos voltados pra isso, mas foque em personalidade, design e motivação. Um personagem que tenha características marcantes e um objetivo crível será muito melhor do que um “mago das trevas” genérico.

Crie ambientes especiais

Campanhas, ao contrário de oneshots, te dão a liberdade de viajar por inúmeros ambientes e seja em um mundo de fantasia ou não, faça questão destes locais serem especiais.

Não se prenda apenas ao visual, descreva sons e cheiros, dê personalidade para ambientes e, quando possível, pense em geografias ou arquiteturas únicas que farão os jogadores lembrarem e até mesmo quererem voltar para lá um dia.

Se encontrar referências na internet use-as como ferramentas para facilitar a visualização do grupo, mas não esqueça que uma boa narrativa ainda será fundamental.

Um mundo vivo

Não esqueça o mundo em detrimento dos jogadores. A campanha dá liberdade para mudanças de rumo, mas o que já foi apresentado continuará acontecendo de uma forma ou outra.

Mantenha um histórico de eventos no mundo e faça-os retornarem de algum modo no futuro ou deixe-os saber os resultados de suas ações a longo prazo.

O grupo decidiu ignorar o grupo de magos que buscam invocar um antigo deus? Talvez depois de algumas aventuras eles descubram que conseguiram. O rei deposto do reino que deu lugar ao príncipe refugiado que o grupo salvou pode surgir com um exército para apoiá-los no pior momento.

As possibilidades são infinitas se você mantiver o mundo vivo ao redor de seus personagens.

Apoie o grupo

É normal achar que seu papel como jogador é apenas interpretar seu personagem e, de fato, a maioria foca apenas nisso, o que é muito ruim.

Organizar uma campanha requer tempo e esforço do narrador, então apoie seu jogo no que puder. Facilite a vida do narrador apoiando seu grupo dentro e fora da narrativa!

Formas de apoio são arrumar a mesa e acessórios do jogo, organizar os lanches, arrumar a ordem de iniciativa em combates mais demorados e não ignorar os ganchos que a aventura gerou sem um bom motivo.

Pequenas ações para um jogador podem dar um grande alívio para o Mestre. Especialmente em mesas grandes se cada jogador se responsabilizar por uma tarefa extra não ficará pesado e todos jogarão melhor.

Entenda seu personagem

Não faça metagame, o que seu personagem sabe e o que você sabe são ações completamente diferentes e se no seu histórico você põe que é de certa forma ir contra isso apenas para se dar bem é um caminho sem volta pra um jogo sem emoção.

Saiba o que seu personagem é capaz de fazer, o que busca e o que evita. Se seu narrador seguiu as dicas passadas ele vai esperar isso de seu personagem e te recompensará com uma ótima história conjunta no final do dia então não tenha medo.

Seja fã de sua campanha

Sabe como você se empolga quando sua série favorita vai lançar um episódio novo e como se prepara para assisti-la sem falta? Seu RPG precisa exatamente disso!

Você deve ser realmente um fã da sua campanha. Desenhe seu personagem, escreva um diário, converse sobre ela, crie teorias, apoie seus criadores da melhor forma e tente, ao máximo, não prejudicar seu andamento com faltas, atrasos e discussões.

Tirando mesas pagas, o valor de uma campanha é a história e o momento que um grupo de amigos passarão juntos enquanto jogam e isso é inestimável, faça valer a pena e seja um verdadeiro fã desses momentos que com certeza marcarão sua vida.

Quando falamos de RPG temos, por natureza, a visão de campanhas. E elas são realmente divertidas, mas desafiadoras!

Por mais corrida que a vida seja, os aplicativos para jogos online nos ajudam a facilitar um processo que fisicamente é quase impossível, então deem uma chance e tentem, seja pela primeira vez ou retornando um antigo estilo de jogo, dar uma chance para as campanhas na sua próxima mesa.

E você, quanto durou sua maior campanha e em qual sistema ou cenário? Tem alguma outra dica ou sugestão? Faça um comentário e nos deixe saber!