Pizza, baixa fantasia, vagabundos licenciados, patifes certificados, preguiçosos profissionais e muito bom humor são as principais características apresentadas por este suplemento compatível com a quinta edição de D&D. Brancalônia é um cenário que faz homenagem aos filmes italianos que abordam com muita irreverência o período medieval e o nosso imaginário sobre ele.
Posso ter começado esta resenha utilizando palavras tão fortes quanto as bebidas que tomei na última taberna que visitei, contudo, Brancalônia realmente subverte todos os conceitos que possuímos a respeito do que seria uma campanha de fantasia épica para RPG.
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Deixando de enrolação, vamos ao que interessa. Neste cenário você não será um herói, mas sim um personagem recém-saído de um dos filmes do grupo de comediantes Monty Python ou de uma comédia italiana que deixaria Cervantes morrendo de inveja.
Isso mesmo, ao invés de personagens épicos, os jogadores são incentivados a controlar malandros e desajustados que precisam fazer diversos trambiques e trabalhos que ninguém em sã consciência aceitaria para poder sobreviver.
Esta foi a característica que mais me chamou a atenção, pois confesso desconhecer um cenário de RPG que trate as personagens dos jogadores da mesma forma como os andarilhos da Idade Média realmente eram vistos pelas pessoas de bem: em uma sociedade obcecada pela sobrevivência em meio a uma crise alimentícia constante, qualquer indivíduo que resolvesse quebrar as leis e fugir do feudo onde deveria viver, era mal visto e passava a ser tratado como um criminoso a ser evitado.
Tudo bem que qualquer olhar mais acurado observaria facilmente que a Itália Medieval não foi nada daquilo que estudamos na escola nas aulas de História sobre o período, porém o cenário dá um show em qualquer outro mundo de D&D no que se refere às referências ao imaginário medieval. E aqui não me refiro àquilo que nós imaginamos ter sido a Idade Média, me refiro à mentalidade que as pessoas que viveram no período realmente apresentavam.
As estradas não necessariamente levam todos à capital do Reino, elas podem te conduzir para alguma floresta infestada de monstros, ou de canalhas que fingem ser monstros, a lugar algum, ou até mesmo para algum reino habitado por fadas ou por ínferos. Falando em ínferos, a maior parte deles podem ser encontrados próximo à Plutônia, a capital do Reino.
Ali surgiu uma passagem direta para o Inferno há um certo tempo, depois que um terremoto ou alguma porcaria mágica provocou a queda da capital do Império Dracônico, literalmente. Provavelmente foi após parte da capital ter sido tragada para o inferno que os ex seguidores de Lucífugo (os Tieflings) abdicaram de seu antigo posto e resolveram perambular pelo Reino.
Ironicamente (ou não), é nesta região que fica o complexo de monastérios onde vivem os principais religiosos da religião do Calendário, que se popularizou a partir da abertura da Porta Eterna (nome dado á entrada do inferno). Resultado: toda sorte de religiosos e falsos Santos circulam por aí pedindo esmolas e vendendo falsos milagres aos desavisados. Existem tantos santos que basicamente você poderia cultuar um deles a cada dia do ano, o que gera uma grande confusão àqueles que desconhecem a religião, ou seja, todos.
Caso você tenha o costume de jogar como clérigo em suas antigas campanhas de D&D, provavelmente o seu personagem será adepto da Religião do Calendário. Tuas magias serão proporcionadas pela fé nos Santos, e inclusive o jogador pode inventar o nome de um Santo que condize com a magia que está invocando.
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Dentre outras “raças” (incluí as aspas por não gostar deste termo) estão os Dom, que nasceram com acesso a poderes arcanos, os Morgantes que são aparentados dos gigantes e as Marionetes feitas com uma madeira encontrada em florestas que possuem grande influência faérica e que aproxima este cenário dos contos de fada italianos.
Apesar desses elementos fantásticos, e de Cocanha (reino da fartura e abundância) realmente existirem neste cenário, este é um ambiente para aventuras de baixa fantasia. Os personagens não avançam além do sexto nível, o que limita não só os poderes como as ações que os personagens podem tomar.
Outra alteração nas mecânicas clássicas do D&D podem ser observadas na adição de regras para combates não letais e para os jogos de azar, fazendo com que o tempo passado nas tabernas seja muito mais do que aquela reunião de aventureiros para descansar entre as aventuras. Inclusive, a maior parte dos recursos obtidos pelos jogadores provavelmente virão dessas vistas às estalagens para indivíduos de trato que também disponibilizam uma área para a venda e consumo de bebidas exóticas e uma culinária singular.
Sim, provavelmente você irá passar mais tempo na taberna brigando, do que resolvendo algum bico que tenha sido contratado para resolver. E mesmo que consiga algum trabalho, contará com recursos escassos e armas de qualidade duvidosa.
Caso sobreviva a algum desses bicos, ou tenha executado alguma façanha digna de se tornar uma lenda em alguma taverna, provavelmente seu personagem terá alguma recompensa posta sobre sua cabeça e subirá de ranking em sua Companhia de negócios. E sim, o livro nos apresenta algumas mecânicas para determinar o valor das recompensas postas sobre os personagens e sobre como organizar uma guilda de vagabundos.
Este livro me empolgou bastante durante a leitura, já que é uma ótima opção para jogadores que tenham se cansado dos jogos de fantasia épica. Este é um jogo que se propõe a ser divertido e engraçado para todos, e inclusive os autores deixam bem claro que este não é um cenário para fazer piadas sobre temas sensíveis e sim com os clichês dos jogos de fantasia.
Deixe seu personagem com moral duvidosa para uma campanha em Ravenloft; em Brancalônia você será um malandro profissional tentando sobreviver um mundo que possui lógica alguma e que parece ter saído da obra satírica de algum bardo extremamente irônico (e possivelmente bêbado)
Caso deseje, você pode degustar o cenário baixando as regras básicas dele aqui.
Por sua vez, o manual básico pode ser adquirido aqui.
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